domingo, 26 de maio de 2013

Soneto 5

Enquanto tive amor minha alma teve
outra alma para amar e ser amada.
Que tens, Amor, p'ra dar, se grã-espada
cortou o amor que tive, raro e breve?

Não vejo teu semblante, cor da neve;
nem toco tua pele orvalhada.
Olhai como que a vida a mim traz nada,
e a vós Fortuna e Glória ela deve.

Eu temo mais vencer a ser vencido
por uma causa nobre que destoa
um rei que arma e coroa tem vestido.

Mas triste é fim de toda gente boa,
pois todo aquele ser por loa erguido
por belo vem a ter só a coroa.

sábado, 4 de maio de 2013

Elegia I

Acabo de escrever esta elegia onde vejo, em boa medida, uma síntese das minhas leituras de Virgílio (Bucólicas), Horácio (Odes), Gonzaga (Marília de Dirceu) e Goethe (Elegias Romanas). Ademais, muitas experiências pessoais ajudaram-me a idealizar o local do poema.

I

É-me difícil retornar à terra
de onde a vida modesta me foi dada,
pois não se agradarão os meus parentes
em saber que troquei-os pelo mundo.
No entanto, nesta terra há perdurado
pães, vinho, café, frutas e oliveiras,
bem como os animais que nela brincam.
Ó, como tolo eu fui em não ter visto
que assim como perdura o alimento
nesta terra, também aqui perdura
do amor dos brutos ao amor dos homens!
E, se algum lema houver para tal terra,
que seja "liberdade, paz e amor".